Por André Marques
Em 1989, os brasileiros voltavam às urnas após longos e
terríveis anos de repressão provocada pelo Regime Militar, que perdurou de 1964
à 1985. Era um momento de redenção, uma espécie de grito de liberdade. A
eleição presidencial daquele ano foi marcante, não só pela volta da democracia,
como também pelo quadro político da época, que propiciou uma campanha com
grandes nomes da história de nosso país. Lula, Leonel Brizola, Mário Covas,
Ulisses Guimarães, Paulo Maluf, Aureliano Chaves e o desconhecido Fernando
Collor de Mello foram alguns dos candidatos à presidência.
O fenômeno Collor começou a despontar no meio da campanha
para o primeiro turno. Simpatizado por grandes empresários, o ex-governador das
Alagoas surgia como uma esperança de renovação na política e um sopro de
dignidade no combate à corrupção, que já naquela época era um dos maiores males
de nossa política. Na verdade, desde os tempos da monarquia é assim. Sua grande
bandeira foi a promessa de combate aos marajás (pessoas que ganham muito e
trabalham pouco), e isso caiu no agrado dos poderosos, entre eles, Roberto
Marinho, dono da Rede Globo.
A princípio, Collor lutaria com Leonel Brizola, mas a
campanha popular e populista de Lula incendiou a campanha, e o candidato do PT
foi ao segundo turno. No momento decisivo, a Rede Globo interferiu de maneira
decisiva, levando ao ar uma edição tendenciosa do debate entre Collor e Lula às
vésperas do segundo turno. O resultado foi a vitória e a eleição de Fernando
Collor de Mello à presidência da república.
Ao assumir o mandato, Collor se portava como um presidente
moderno. Ficou famoso por suas aventuras aos finais de semana pilotando
jet-skis, afinal de contas ele foi o presidente mais jovem da história do
Brasil. Chegou ao poder aos 40 anos. Mas as medidas econômicas tomadas em seu
governo chocaram a população. Seu governo foi marcado pela implementação do Plano Collor e a abertura do mercado
nacional às importações e pelo início de um programa nacional de
desestatização.
Seu Plano, que no início teve uma boa aceitação, acabou por
aprofundar a recessão econômica, corroborada pela extinção, em 1990, de mais de
920 mil postos de trabalho e uma inflação na casa dos 1200% ao ano; junto a
isso, denúncias de corrupção envolvendo o tesoureiro de Collor, Paulo César Farias, feitas por Pedro Collor de Mello, irmão de Fernando Collor, culminaram com um
processo impeachment de seu mandato.
Em meio às denúncias, Collor tentou provar sua popularidade,
convocando o povo a vestir verde e amarelo e sair às ruas em apoio ao seu nome.
Porém, o efeito foi contrário, e o povo, sobretudo os jovens, saíram de preto e
exigiram a saída do então presidente. Foi uma das manifestações populares mais
marcantes da história da política brasileira, sendo comparada ao Movimento das
Diretas Já, de 1984. O movimento de 1992 ficou conhecido como o “Movimento dos
Caras-Pintadas”.
Cronologia do processo de impeachment de Collor:
- 29 de setembro de 1992 - A Câmara dos Deputados vota a favor da abertura do processo de impeachment de Collor por 441 votos a favor e 33 contra.
- 1º de outubro de 1992 - O processo de impeachment é instaurado no Senado.
- 2 de outubro de 1992 - Collor é afastado da Presidência até o Senado concluir o processo de impeachment. O vice-presidente Itamar Franco assume provisoriamente o governo e começa a escolher sua equipe ministerial.
- 29 de dezembro de 1992 - Começa o julgamento de Collor no Senado. O presidente renuncia por meio de uma carta lida pelo advogado Moura Rocha no Senado, para evitar o impeachment.
- 30 de dezembro de 1992 - Por 76 votos a favor e 3 contra, Fernando Collor é condenado à perda do mandato à inelegibilidade por oito anos.
Segue abaixo, o vídeo de uma música marcante da época. “Hoje
Eu Tô Feliz, Matei o Presidente”, de Gabriel o Pensador.
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